2 de fevereiro de 2010

Entrevista :: Eduardo Martinez (Hangar)

Boa Tarde Pessoal!

Tudo Bem com vocês!!??

    Bom, Hoje vai ao ar, nesse exato momento a primeira de muitas entrevistas que faremos com alguns nomes importantes da guitarra no Brasil.

    O primeiro deles foi o Eduardo Martinez da banda Hangar, que atendeu ao GUITAR TECH com extrema simpatia, citando fatos de sua carreira, de suas experiências como músico e também de sua vivência no Hangar e como é atuar em uma banda de grande porte.

      Galera...Não percam essa entrevista pois é uma aula de profissionalismo musical e perseverança.
Agradecemos novamente a esse incrível guitarrista que nos concedeu essa entrevista contando detalhadamente várias curiosidades interessantes de sua carreira.
Valeuuuuu Martinez!!! Muito sucesso sempre, para você e para o Hangar

  


     Você é formado em música pela UFRGS, de que forma isso lhe auxilia nas composições do Hangar e do Lápide?

     Sou de uma família em que sem diploma você é deserdado... E sempre respeitei muito o exemplo de meus pais, trabalhadores, professores e artistas. Fizeram tudo sem os pais deles pra resolver as broncas e estão juntos até hoje. Um Martinez pode ser tudo menos vagabundo. Minha irmã é advogada. Eu sou músico, guitarrista e bacharel em violão. Mas acima de tudo um fã de guitarra e música.

     Minha passagem pela UFRGS é tripla; primeiro na economia, depois, a partir de 1988 cursei por 5 anos o bacharelado em composição musical, faltou um ano para me formar, pois me mudei para São Paulo com minha primeira banda, o Panic. Retornei em 98 para o curso de violão e me formei em 2004. A questão da faculdade de música, no meu caso, é o conhecimento e em segundo, um diploma. O fato de a federal fornecer uma educação musical de qualidade e financiada por nós mesmos contribuintes foi fundamental na minha escolha. É preciso usar deste país o que ele tem de bom para começar a mudar o que não funciona.
Há, no entanto, uma mistificação do “sucesso” em música. Me parece que talvez existam músicos que “nasceram para estudar” e gente que “nasceu pra tocar”. Se você quer ter uma banda e tocar, compor a música que você gosta e acredita, pode ser que você viva só pra isso. Não perca tempo com desvios acadêmicos. Ou sim, estude muito tudo o que se relacione ao fazer musical! Porque não? Tudo depende de você e do seu empenho, amor ou loucura por música. Sem falar do tempo da sua vida pra fazer tudo.

   A partir do primeiro LP que gravei com a Panic, em 1986, decidi que ia ser realmente músico, independentemente do “sucesso” como “artista”. Quem não “faz sucesso” tem que estudar para permanecer na “grande” música, fazer seu bacharelado, mestrado, doutorado. Principalmente para poder lecionar na própria universidade e fora dela. E, conseqüentemente, viver de musica. A glorificação do “sucesso” invejável é aquela do artista popular, carros, mulheres, milhões de discos. Isso tudo é ótimo, mas eu decidi ser músico, como alguém decide ser médico pra fazer “bem” seu ofício e ganhar seu dinheiro dele, sem fazer outra coisa pra viver e tocar só no fim de semana. O que também é ótimo, pois alguém já disse que nós somos realmente aquilo que fazemos nos finais de semana, não importa nossa profissão principal... Já uma banda que quer ser profissional é uma empresa. Você tem que bancar a empresa até dar lucro de qualquer maneira, ou então é um hobby.

   Logo que entrei no Hangar pude trabalhar bem de perto com Mike Polchowicz, o vocalista, na composição e produção de Inside Your Soul, pois estudei contraponto, harmonia, arranjos vocais, canto gregoriano, forma e análise musical, teoria e percepção musical, história da música, improvisação, piano, etc. o Mike é um tenor, lê musica e executa o repertório tradicional e contemporâneo no coral da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Nossa interação foi muito boa, pois falávamos a mesma linguagem. Acho que essa foi a minha colaboração mais importante nos primeiros anos de Hangar. Era aquela época do “metal melódico”. O espírito dessa grande música européia, em minha opinião, está vivo em alguns compositores dentro do metal. Os grandes nomes da música historicamente consagrada sempre estudaram muito e utilizaram esse conhecimento da tradição para trabalhar com material temático da sua “terra” ou período. No passado, os estilos antigos interessavam apenas como aprendizado e saudosismo. Quando o clássico acabou, ou melhor, foi acabando, quem ainda compunha naquele estilo em pleno “romantismo” era ultrapassado, bregão, ou um cara muito convicto que sabia que tinha algo a acrescentar ao estilo ainda, como Bach no final do barroco com sua arte da fuga e o Brahms em sua “busca da décima de Beethoven”...

     A minha tradição é o metal, que já a tem a sua história; blues, rock and roll, hard rock e heavy metal, a fusão desses estilos com o punk rock e surgimento do thrash metal e variações infinitas de fusões com jazz, com ópera, com experimentalismo e com sotaques étnicos. A longevidade do metal com elementos da sua própria cultura é o que me atrai nele. Pra compor metal você tem que ser um fã de metal. E por eu ter tocado tanto Bach, Weiss, Brouwer, Sor, Giuliani, Diabelli, Scarlati, Ponce, Milán, Downland, Carulli no violão prefiro deixá-los lá. Com a Orquestra Profana de Porto Alegre pude “brincar” com Vivaldi, Bach e Mozart nas guitarras, o que me satisfaz e me deixa sem nenhuma vontade de trazer esse tipo de citação do passado para o metal, que tem uma tradição já bem consolidada já de uns 50 anos...

     O que realmente abriu minha cabeça foi o contato com a “nova” música do século passado; Schoenberg, Mahler, Brouwer, Stravinsky, Edino Krieger, John Cage, Liget, Webern, Celso Loureiro Chaves, Fernando Mattos, James Correa... Essa música que nunca será popular tem a rebeldia e a ousadia de se mover por si própria, de ser incômoda e te fazer pensar. Como o rock dos anos 50, o metal e Beethoven fizeram um dia aos seus contemporâneos.

    Esse espírito livre me influencia a trabalhar e me servir de alguns pilares da tradição da grande música: forma, material temático próprio do rock, riffs, ritmos temáticos ou motivos; desenvolvimento desse material e variação. Por exemplo, quando é preciso criar uma nova parte em uma música, um recurso possível é tentar adaptar algo que já foi usado, mas suprindo a necessidade daquela nova parte. Talvez essa adaptação seja perceptível apenas pelo compositor, mas está lá. Isso pode dar mais “organicidade” à música, fazendo com que as partes tenham relação com o todo. Contraste também é importante, alternância de “climas” entre as partes. Mas esse recurso, em minha opinião, deve ser usado com cuidado.  A idéia de partes que derivam de uma idéia inicial é que faz com que nossas músicas não sejam apenas uma sucessão de idéias coladas, e isso pra mim é muito importante. Não se pode esquecer que há uma melodia vocal, uma letra que diz algo. E a música tem que interagir com esse texto, e vice versa, buscando na sua forma, a alternância e recorrência das partes junto com o texto. É um jogo sem fim e fascinante. Eu prefiro lidar com as secções instrumentais a com o arranjo vocal. Para criar melodias é preciso senti-las e acreditar nelas, elas são a alma da música. Eu adoro criar riffs, partes instrumentais e solos, curto muito essa parte da “engenharia” da música. De resto é lidar com a expectativa do ouvinte, lhe dando surpresas ou mais do mesmo, dançando conforme a música. Pois essa música é para o fã, para quem conhece a banda e a tradição do metal. E o compositor precisa conhecer também. É aí que a tradição da grande música européia e a grandiloqüência e energia do metal podem colaborar. Prefiro deixar a orquestra fora disso. Quem tem o Fabio Laguna no teclado da banda não precisa se preocupar com essa parte.

    No caso da Lapide tenho o privilégio de trabalhar em trio com Hercules Priester na bateria e Gabriel Siqueira no baixo e vocal. É muito bom trabalhar assim com uma formação pequena e um estilo bem definido como o thrash, que já se estabeleceu com 20 anos de história, assim como estilos que não morrem jamais como o blues. Em todos os casos, seja na Lapide, no Hangar ou no projeto Freakeys a vivencia acadêmica me ensinou um pouco a conviver com a pressão da performance, a tentar estar sempre over preparado. As provas de instrumento desde o início, no vestibular, são o momento da verdade; você está ali sozinho diante da banca, e não vai explicar nada. Ou você está preparado ou não. Você vai apenas tocar, e a música que você for capaz de produzir naquele momento vai te dar a vaga, a nota, ou o diploma. Ou não. É saber que você vai dedicar um semestre, um ano, uma vida a um repertório, ao seu instrumento. E é bom que você goste de encarar suas deficiências e limites. Pois essa será sua vida.


    Após longos anos de estrada, o Hangar teve o merecido reconhecimento nos últimos anos, como você vê essa evolução e quais são os planos da banda para o futuro?

    Estamos agora preparando a tour do Infallible, que envolve o tour bus, o back line e PA completos pela primeira vez. Temos também a partir de maio a tour com Paul Dianno revivendo a era Iron Maiden, com a participação de Adair Daufembach na segunda guitarra. Aquiles está lançando seu Segundo DVD The Infallible Reason Of My Freak Drumming com ênfase nas músicas do Infallible, The Reason Of Your Conviction e Freakeys. Isso é muito importante para nós pois esse DVD entrará no mercado americano também como ferramenta didática e levará nossa música até eles de uma maneira brutal. Poucos músicos hoje em dia têm um repertório e uma performance como vocês poderão ver nessa obra. Temos nosso show acústico junto no tour do Infallible que é excelente, é um segundo show, versões novas das mesmas músicas, músicas que não estão no show... Um pocket show que cabe em qualquer lugar e mostra uma roupagem diferente das músicas do Hangar.


    Qual foi o show mais marcante e significante para o Hangar nesses mais de dez anos de estrada?

    Para mim a minha estréia no Hangar abrindo para o Paul Dianno em Porto Alegre foi muito especial. Destaco também as aberturas de show que o Hangar fez para o Dream Theather, Sepultura e Qüeensriche. Muitas emoções.

     Como você analisa o cenário das bandas de Heavy Metal hoje no Brasil? O que mudou? E o que está por mudar? E quais as adaptações que o Hangar sofreu ao longo dos anos para se adequar e conseguir o seu espaço?

     Em 1985 o acontecimento do festival Rock’n’Rio me pegou ouvindo bandas bem mais extremas que as daquele cast incrível que mudou o Brasil. Até então não havia estúdios de ensaio, uma estrutura nacional para o metal. Gravei o primeiro LP da Panic nos estúdios de uma radio católica... A meu ver, que estava a pré história do metal nacional e fiz parte dela, as pessoas que fazem e tocam mudam a cena a cada instante e tudo acontece e continuará acontecendo graças aos fãs. O Hangar começou numa era em que já era possível sonhar com uma carreira profissional pois o mercado estava estabelecido, já era uma realidade, com bandas e lançamentos constantes, absorvidos por um mercado que é também de músicos que também tem suas bandas querendo participar dessa cena. O músico brasileiro tem muita garra e acredita no que faz.
O Hangar é 24 horas por dia dedicação ao Hangar e isso nunca mudou. Porém agora temos mais resultados e mais ações com essa dedicação. Somos a música, a banda, a tour, a empresa Hangar. Todas as atividades paralelas são ligadas a música e temos que administrar o Hangar incessantemente.


     Você possui uma formação musical muito completa, se mostrando um guitarrista extremamente eclético, em um âmbito geral da música, quais são suas principais influências?

     Meu primeiro professor de guitarra, Enrique Azambuja. Meu primeiro professor de Violão Eládio José de Souza. Na universidade Pedro Duval, Márcio De Souza, Flávia Alves, Daniel Wolff, Thiago Colombo, Paulo Inda, Meu professor de composição Celso Loureiro Chaves. Sou influenciado pelas qualidades que busco e percebo em algum musico que conseguiu aquilo para sua execução a todo instante.


    Dentro de tantos outros compromissos, nacionais e internacionais dos integrantes da banda como workshops, feiras musicais, aulas e etc.; como é planejado o processo de composição e gravação dos CDs da banda?

     Cada álbum do Hangar aconteceu de uma maneira diferente, ou conjunto de maneiras. No Infallible nos reunimos durante uma semana em um sítio estúdio no município de Tatuí, SP e compusemos uma música por dia, todos na mesma sala tocando. Partimos de algumas idéias individuais e buscamos não nos repetir, afinal, era tudo feito de um dia pro outro. O Fabio Laguna estava junto desde o início desta vez e foi uma oportunidade para todos colaborarem. Somos pessoas e músicos bem diferentes uns dos outros e quisemos que a personalidade de cada um aparecesse nas músicas.


     O que anda ouvindo e estudando ultimamente?

     Os álbuns Iron Maiden e Killers, Infallible, Freakeys, Over The Grave. E Panic. No mais ligo o radio e vou zapeando. Ouço muito Zappa, Holdsworth, Johnny Winter, Elvis, Slayer, Bach em qualquer instrumento e World Music Coreana.


     Especifique um pouco sobre o seu modelo signature a Martinvader da marca Ledur quais são os captadores, pontes tarraxas? Configurações em geral, e como ela foi desenvolvida para que se adequasse as suas técnicas e também ao som do Hangar?

     Sim, a Martinvader foi projetada para gravar o Infallible.  Eu a testei no final tour do The Reason Of Your Conviction e pré produção. Ela esta disponível para pronta entrega nos modelos Classic, Custom e Canhota. Essa guitarra é baseada no protótipo que gravou o The Reason Of Your Conviction. Eu já tinha uma Ledur modelo custom que desenhei e encomendei pois precisava de um instrumento para gravar álbuns sérios, de responsabilidade mundial. Para um timbre consistente e de qualidade um corpo inteiriço de mogno com cordas fixadas através do corpo é perfeito. A captação da Martinvader é Seymour Duncan Blackout ativa, como no álbum anterior. Ela tem o maior sustain, ganho e ataque do mercado, um timbre limpo cristalino e silencioso. A escala é 24 casas, o capo traste de osso e a tocabilidade total. Todo esse poder empurram um amplificador Maverick MVK 150 valvulado de maneira natural através de uma Zoom G2 que fornece os efeitos digitais, a excessão do drive que é do pré do Maverick. As cordas são D’Addario e meus cabos e palhetas são da Planet Waves. Os amplificadores são protegidos por Strazza Cases e os instrumentos por Shred Cases e bags.  A microfonação do gabinete 4x12 é audio technica. Utilizo monitor Power Click e violões Takamine no cd e no show acústico.


    Agradecemos pela entrevista concedida ao Guitar Tech e gostaríamos que deixasse uma mensagem aos fãs de Hangar e leitores do blog.

     Obrigado pelo espaço Ramon Domingos, foi um prazer falar de tantas coisas que me interessam, espero ter sido útil e não ter viajado demais, mas esse assunto às vezes pede. E como viajar é na estrada, então nos vemos nela para a Infallible tour 2010/11. Abraço amigos, colegas músicos!


     É isso aê pessoal!!! Não deixem de conferir essa entrevista, pois está recheada de ótimos conteúdos e conselhos para quem está começando e para quem já começou no ramo musical!!!

Confiram alguns clips do Hangar


Keepin` Rocking in a free World!!!

ROCK!!!

3 comentários:

  1. Ramon meu amor!
    Seu blog está maravilhoso!
    Parabéns pela entrevista com o Edu...
    Ficou fantástica!
    Vc é o melhor guitarrista que eu conheço, logo será o melhor do mundo...
    Acredito em vc, e sei que vc tem potencial para ir mais longe!

    Eu te amo...
    Bjos no seu coração!

    Amanda Checchio.

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  2. Rafael Bittencourt, Hugo Mariutti e Eduardo Martinez: Os guitarristas!

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  3. Linda entrevista,esse é o cara....o Doutor Eduardo Martinez!!!!

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