17 de abril de 2016

Entrevista :: Kiko Loureiro (Megadeth / Angra)


Olá Pessoal do Guitar Tech!!!


Kiko Loureiro concedeu uma entrevista exclusiva para os sites Guitar Coast e Guitar Tech. O entrevistador foi Ramon Domingos e você confere a entrevista na íntegra abaixo!
Nessa entrevista, Kiko Loureiro fala sobre alguns assuntos como, trabalhar musicalmente vários segmentos musicais e a importância do estudo amplo de gêneros variados para se conseguir tais combinações com êxito, falou sobre equipamentos suas linhas de assinatura, sobre estar atuando em estúdio e ao vivo e quais equipamentos priorizar além de dicas valiosas para quem está iniciando ou já atuando na profissão.

                                                                              Foto: Henrique Grandi


1 - Primeiramente, conte um pouco sobre seu início, por favor. Quais os desafios da época e os primeiros aprendizados?

Comparando com os tempos atuais, o maior desafio era conseguir bons materiais para estudar. Não havia muitas escolas e, geralmente, o professor ia à casa do aluno para ensinar o instrumento. Só depois de um bom tempo de estudo me matriculei em uma escola de música, porém, a escassez de material ainda era um problema. O único contato com os conteúdos musicais era na aula, tínhamos uma dependência muito grande do professor. Isso fazia o desenvolvimento ser mais lento. Tínhamos que aproveitar o máximo da aula, pois o próximo conteúdo só viria na próxima semana.
Também não havia muitas fontes de pesquisas para que pudéssemos avançar nos conteúdos, buscávamos informações em revistas de bancas de jornal, livros e também a própria aula. Aproveitávamos o que era possível.
Acredito que hoje o acesso à informação está muito mais facilitado, o que é muito bom, pois podemos consultar dezenas de materiais. Mas também vejo um lado negativo em tudo isso. A grande demanda de informação pode deixar as pessoas um pouco perdidas, sem saber ao certo o que priorizar o que estudar e como estudar, mas comparando com o que tínhamos na época, já é uma grande vantagem.
Também não havia bons instrumentos. Eu comecei com um violão emprestado da minha tia. Sou canhoto, mas tive que aprender a tocar como destro, pois minha irmã também fazia aula. Atualmente, o acesso aos equipamentos é muito mais facilitado. Em meados da década de 80 era um pouco mais difícil conseguir um bom instrumento.
A realidade começou a mudar quando passei a dar aulas de guitarra, com isso consegui comprar um instrumento melhor. E essa era a realidade de uma pessoa de classe média que morava na cidade de São Paulo. Hoje em dia, uma pessoa que mora na capital tem um acesso ilimitado a instrumentos, escolas e professores.



2 - Em qual momento você viu que iria seguir carreira na música? Olhando para trás, quais foram as principais medidas adotadas para construir uma carreira de sucesso?

Comecei dando aulas para alguns amigos. Como gostava de estudar, rapidamente aprendi algumas coisas legais e eles pediam que eu os ensinasse. Comecei ensinando em casa mesmo, vi que esse seria meu primeiro caminho para me profissionalizar na música. Logo peguei gosto por ensinar. Como disse anteriormente os materiais eram muito escassos e muitos não queriam compartilhar seus livros e conhecimentos. Eu não era assim, quanto mais aprendia, mais queria ensinar e isso me motivava a estar sempre aprendendo mais, inclusive em relação ao meu curso “Music Business”. Poucos falam sobre isso, e poucos tem o devido conhecimento sobre o assunto, e são conhecimentos que sempre utilizei ao meu favor em todos esses anos atuando como músico, seja no Angra, na minha carreira solo, ou até mesmo agora com o Megadeth. Acredito ser interessante compartilhar essas informações com o público em geral.
Porém, o momento em que realmente decidi trabalhar com música só ocorreu alguns anos depois, até por que na época eu comecei a fazer faculdade de Biologia, me via um pouco dividido entre as duas áreas, tocava em bandas, dava aulas, frequentava a faculdade, fazia provas e trabalhos. Gostava muito de música, mas, assim como muitos, também tinha receio de encarar essa profissão. Meu pai era bioquímico, então isso me influenciava bastante na área biológica.
Logo veio o Angra e, na gravação do Angel´s Cry, passamos dois meses na Alemanha. Com isso perdi muitas aulas e provas, passei a me enrolar nas matérias e percebi que meu caminho seria a música. Por fim, segui só nisso, não foi uma decisão muito fácil de tomar, havia pressão da família e de terceiros, e o receio de seguir em uma profissão sem um diploma. Em tal época, isso tinha muito valor, porém hoje faço o que realmente gosto e creio que deu certo.




3 - Quais foram suas primeiras influências? E, atualmente, quais músicos mais têm te inspirado?

Na escola que eu estudava, havia uma biblioteca que tinha alguns discos. Na época, não comprávamos muitos discos por serem caros, então a saída era pegá-los na biblioteca e gravá-los em fitas cassete. Eu curtia Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd, Nazareth, essas coisas. Logo, vieram os guitar heroes da década de 80, também comecei a me interessar por jazz e música instrumental. Isso foi um diferencial, pois pude agregar tais elementos a minha musicalidade, atualmente os músicos que me influenciam continuam sendo meus ídolos de adolescência e também algumas bandas mais atuais. Outros artistas costumo prestar atenção em como eles se posicionam em relação ao mercado musical, então acompanho artistas mais pops, que também possuem boas músicas, já que há grandes nomes da composição trabalhando nesse meio. Isso me faz ouvir de tudo, da música pop até o jazz.




4 - Falando em todas essas influências, desde heavy metal, até música brasileira, jazz e outros estilos, qual é a importância de dominar vários gêneros?

Acho que isso vai de cada músico... Há instrumentistas que atuam de forma mais segmentada e são ótimos no que fazem. Misturar elementos te faz ter novas fontes, nisso você se diferencia e isso não se resume apenas à música em espécie. Muitos outros fatores externos podem ser inseridos em uma identidade musical.





5 - Sobre equipamentos, quais as principais diferenças entre o que você utiliza numa situação de estúdio para uma ao vivo?

Sim, costumo variar bastante. No Megadeth, temos um sistema já pronto para shows. Para treinar em casa e em hotéis, tenho um set mais simples. E em estúdio, temos mais possibilidades de amplificadores e equipamentos no geral, nesse caso quanto mais variedade melhor. Em termos de guitarra uso meu modelo Signature da Ibanez. Atualmente, também tenho usado os violões da Ibanez, que por sinal são muito bons, pedais da NIG, cordas D’addario e captadores DiMarzio. Costumava usar amplificadores da Laney, mas atualmente, de acordo com o setup do Megadeth, tenho usado Marshall.






6 - Ultimamente, vemos a internet cada vez mais importante como ferramenta de trabalho dos músicos. Em sua opinião, quais os melhores passos que um músico pode adotar para fazer uma divulgação profissional?

É um novo modelo de comunicação e marketing. Vejo muitas bandas mais antigas assim como o Megadeth e até mesmo o Angra se aperfeiçoando nessa realidade. Porém, há alguns empecilhos como contratos antigos que ainda prendem os artistas em um modelo mais tradicional de comunicação. O atual mercado é um campo muito aberto para novas ideias e a internet está diretamente conectada com tudo isso. Creio que as bandas mais novas que já nasceram nessa geração precisam estar 100% ativas em termos de internet e estudar as melhores formas de se estabelecer nesse novo modelo de mercado. Dessa forma, muitos artistas constroem suas carreiras na internet, lembrando que há inúmeros ramos de atuação na música e, para cada um deles, você pode usar a internet de formas diferentes, tudo depende de como você vai atuar. Seja como artista, empresário, professor, você precisa encontrar bons meios nas plataformas da internet para que você consiga se comunicar de forma eficiente com o seu público. No meu caso, faço de tudo um pouco, tenho meus trabalhos autorais, trabalhos com o Megadeth, e a parte de cursos com o Music Business.





7 - Também muito presente nos dias de hoje são as relações de endorsement entre artistas e empresas do ramo musical. Como deve ser construída essa relação e qual é o posicionamento que o artista deve ter?

Vejo isso como um caminho natural. Antigamente, o cara que tocava em uma banda tinha o sonho de estar no cast de uma grande gravadora. Porém, atualmente temos essa alternativa de trabalho, atuar com as marcas de instrumentos. Através disso, o músico pode ter certo destaque na mídia e até viajar para tocar divulgando um determinado produto tocando em feiras. É mais um caminho que temos para diferenciar nossos trabalhos, então eu entendo esse pessoal que corre atrás de uma oportunidade de endorsement. Como uma válvula de divulgação, isso é válido. Se houver um bom entendimento desse mercado, o cara consegue bons frutos.
No curso de Music Business falo bastante sobre isso, pois é um assunto muito pertinente, mas também é importante lembrar que não é o único caminho. Como disse anteriormente, há muitas outras opções de atuação. Não podemos apostar toda nossa carreira apenas nesse meio de mercado.






8 - Você possui séries no YouTube (‘Passando o Som’ e ‘Monólogos em um quarto de Hotel’) onde você conta um pouco sobre o cotidiano de um artista de carreira internacional e trás também valiosas dicas do mercado musical. Como começou esse trabalho?

Sempre tive essa ideia na cabeça, desde os anos 90, sempre tive contato direto com o pessoal de gravadoras e esses profissionais estão sempre ligados no Marketing, porque a música é isso, quando você se insere nesse meio acaba percebendo que a música é como um produto. E quem compra e vende, na maioria dos casos, não entende de música. Fui aprendendo isso com o passar dos anos, passei a falar mais sobre esse assunto e tive um bom feedback. Eu gosto bastante, sempre gostei muito de ensinar, antes era com aulas, depois com workshops, agora com a internet, o que é bem legal, pois é possível atingir um grande número de pessoas e tanto no curso como nos Monólogos de Hotel falo sobre assuntos corriqueiros na vida de um músico. É um lance legal e pude até me posicionar de outra forma no mercado musical. É até minha intenção, pode parecer um pouco pretencioso, mas sempre tive essa intenção de estar a frente, abrir novos caminhos e passar os ensinamentos para frente.




9 - Além dos seus vídeos no YouTube sobre a vida de músico, atualmente você tem passado seus conhecimentos adiante com o curso online de Music Business, onde você trás várias táticas e conceitos de mercado. Qual é a sua visão sobre esse assunto?

No geral, falo das coisas que ando vivenciando e coisas que já vivi nesses anos de música, e vejo que é um assunto necessário, pois muitos músicos desconhecem esses assuntos, e quanto mais o músico progride, melhor deve ser seu posicionamento de marketing. É um assunto que funciona para todos, para quem está começando, pois aí já se aprende a forma correta de gerenciar sua carreira, e, para o músico já atuante, é importante para que ele se reposicione no mercado.





10 - Gostaríamos de agradecer muito sua presença nos blogs Guitar Tech e Guitar Coast!
Obrigado pelo espaço e boa sorte a todos!



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