30 de março de 2017

Entrevista :: Tomati



Olá Pessoal! Tudo bem como vocês?

Então vamos com mais uma entrevista!!! Sem precisar de muitas apresentações, um cara muito conhecido no cenário musical e "guitarrístico" nacional! Carlos Tomati, marca presença aqui no Guitar Tech!!!

Sempre admirei o estilo do Tomati, por abranger vários segmentos musicais, fazendo desses recursos sempre a mais bela música, fiquei feliz quando ele topou realizar a entrevista, até por que fazia um tempão que não entrevistava um guitarrista brasileiro! O que é muito legal, pois entrevistar caras como o Tomati, cheio de novas ideias, projetos e ambições sempre incentiva novos talentos e aproxima fãs de ídolos!

O bate-papo foi bem animado e descontraído! Na entrevista conversamos sobre o início de carreira, conceitos importantes para ser um bom músico, equipamento, internet e redes sociais na vida do músico profissional e muito mais!

Enfim... Cada entrevista é um novo aprendizado!!! Uma leitura indispensável para quem gosta de estar sempre progredindo e aprendendo coisas novas!

Ao Tomati fica aqui meu muito obrigado pela atenção e simpatia ao responder para o Guitar Tech! Muito obrigado e muita sorte em seus novos projetos!!!!




1-) Primeiramente conte um pouco sobre seu início na música. Quais eram suas influências e quais os principais desafios da época?

 Quando era bem pequeno tinha um piano em casa, mas acho que comecei tocando bateria de panelas na cozinha da minha mãe. Eu tinha uns cinco anos, meus pais eram separados, minha mãe saia pra trabalhar e eu ficava em casa sozinho ouvindo rádio. Montava uma bateria de panelas e ficava acompanhando as músicas do rádio. Queria aprender bateria, mas os instrumentos eram caros, então, para ter certeza que eu queria aprender bateria, minha mãe me levou em uma escola de bateria onde o professor não me deixava pegar nas baquetas para tocar, eu ficava fazendo exercícios nos pedais do bumbo e chimbau enquanto o professor saía para tomar café e voltava no final da aula. Depois de duas aulas eu disse para minha mãe que bateria era chato e que eu queria tocar, mas o professor não deixava. Saí da escola de bateria e fiquei sabendo que meus primos estudavam violão, quando peguei o violão senti que tinha facilidade para fazer as posições no braço e comecei a ter aulas com o professor deles. Era o mesmo professor do meu pai, então fiquei com o professor e o violão dele. Na época a musica brasileira era maravilhosa tanto harmonicamente como poeticamente e todas as músicas estavam em revistinhas nas bancas de jornal e essa foi minha grande escola. Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque de Holanda, Caetano, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Dorival Caymmi, Rita Lee, Marina Lima, Guilherme Arantes, entre muitos outros. Nessa mesma época eu ouvia música gringa nas novelas, música clássica nos desenhos animados e jazz instrumental na TV aberta. Ouvia com os ouvidos bem atentos e fui pego. Kkkk






2-) Em qual momento da sua vida percebeu que a música seria seu meio de sobrevivência e quais as medidas adotadas para construir uma carreira sólida?

 Eu nunca pensei nisso, mas quando me chamavam pra tocar nos churrascos da família dizendo que eu tocava muito bem e eu não estava muito interessado em tocar eu perguntava, - O que eu vou ganhar se eu tocar? Acho que aí, com uns onze, doze anos de idade, já sabia que poderia ganhar alguma coisa com isso. 






3-) Na sua opinião, quais os fatores indispensáveis para seu um bom músico/ guitarrista?

O maior fator para se tornar um bom músico é ser um bom ouvinte. Desenvolver o ouvido. Decorar as músicas. (Tocar "de cor". De Coração) Depois, com um instrumento, você poderá tocar os sons que estão na sua cabeça e no seu coração. 
Saber ler e escrever (música) também ajuda. 






4-) Algum projeto, lançamento ou parceria musical que gostaria de mencionar?

 Agora com mais tempo, fora da loucura da TV, tenho me dedicado ao despertar de novos talentos compartilhando meus conhecimentos em várias escolas e fazendo Master Classes por aí. Estou muito feliz porque tenho alunos que estudam e estão evoluindo rápido. Vejo um futuro legal pra eles. E assim, vou deixando meu legado. 

Tem o GUITAR FU510N www.guitarfusion.com.br, que esta em fase final. Aproveitem! Com vários vídeos alguns demonstrando como achar as sonoridades dos modos gregos, alguns com as regulagens de alguns efeitos e vários outros com meus Licks e vídeos tocando por aí. Custa R$25,00 por mês, e parece que esse valor atualmente é uma fortuna porque não tem muitos assinantes, como não consigo pagar para continuar fazendo com a qualidade de vídeo que quero, bilíngue etc.. E em dois anos não apareceu nenhum patrocinador interessado em apoiar o site. Ou ele será transformado em um site de vídeos apenas, sem aulas, ou vai acabar... Infelizmente. 



Tem aquela novela da minha guitarra, a “Tomatinha”, que uma marca iria fazer e depois não quis renovar o contrato, acabou com a expectativa da galera de ter uma guitarra moderna Brazuca, porque ainda preferem importar imitações baratas dos modelos tradicionais, Strat, Les Paul, Tele, Jem, Prs etc.. do que investir em um modelo original. Enfim.. Deu uma brochada embora ainda tenham algumas marcas interessadas.



Tenho alguns projetos em andamento, mas não gosto de adiantar nada enquanto estão em andamento, prefiro divulgar quando concretizados, ainda tenho muito trabalho pela frente. 

Um deles acaba de estrear, o canal “LiveStreaming” de Música chamado “Vinil Review”, com super músicos fazendo resenhas sobre os discos que influenciaram a vida deles além de Pocket Shows e Workshops "Ao Vivo" pra galera assistir em casa com os amigos. Tem pagina no Face e site: vinilreview.com.br 




Também estou finalizando a entrevista que fiz com Mike Stern, graças à amigos e fãs que ajudaram assinando o GUITAR FU510N e despertando o interesse de uma produtora para dar continuidade à série. Confiram os nomes nos créditos. 
Foi muito legal e em breve estará na rede.

Continuo tocando com minhas bandas, com o Power Trio, com a cantora Michelle Spinelli, tocando minhas composições, Jazz, Fusion, Musica Brasileira, Bossa Nova, Rock'n Roll, dentro e fora do país. Contato para shows email@tomati.com.br 

São muitos projetos lindos, mas o momento do país é muito ingrato para investidores, sabendo disso, o importante é continuar estudando e projetando um futuro melhor para todos, quando melhorar, “é nóise”!

Me desejem sorte.
Obrigado por perguntar. 



5-) Atualmente em termos musicais, o que tem estudado e escutado?

Escuto e estudo as mesmas coisas de sempre, boa música, bons músicos. Procuro sempre estudar as referências dos mestres dos mestres, só assim é possível reconhecer a influência da música do passado no estilo contemporâneo. De onde veio a inspiração de John Coltrane? Quem ele ouvia para chegar onde chegou e desenvolver seu estilo? Como ele fez isso? É isso que eu estudo. Música Erudita, Jazz, Música Brasileira, Jazz Brasileiro, Brasileira Erudita, nem sempre tocando as obras, mas "ouvindo" atentamente. É isso que gosto de fazer, ouvir. Depois de um tempo tudo você ouve se manifesta naturalmente, como as gírias da galera com quem você anda. Da mesma maneira que você aprende a falar, repetindo o que as pessoas ficam buzinando na sua orelha. - "Fala, mamãe! Ma mãe". Um dia, de tanto escutar, você fala. A música é como uma nova língua, você ouve, repete, aprende as palavras (frases-licks) e depois expressa suas próprias ideias com elas.
Uma viagem longa de carro é ideal para se ouvir quatro horas de música ou exercícios, ou no trânsito. No trânsito em São Paulo está mais fácil. Kkkk
O tempo é relativo com a música. Com ela você perde a hora. O tempo para. 





6-) Outro fator muito ocorrente dos anos atuais são as mídias alternativas de divulgação (youtube, redes sociais) De uma certa forma tais fatores democratizaram o acesso a arte e aos veículos de comunicação, porém muita gente parece não saber fazer o uso correto desses meios, na sua opinião qual a melhor forma de um músico profissional se posicionar diante dessas mídias para consolidar seus trabalhos da forma mais profissional possível?

Acho que se você se preocupar com sua música a mídia te segue e não o contrário. Se você ficar se preocupando com a mídia você não estuda e terá um retorno superficial, ou seguirá tendências de sucesso deixando sua autenticidade de lado e talvez nunca descubra o prazer de ser músico na vida. Mas vai ser famoso na internet e talvez até ganhar dinheiro, por algum tempo, depois vai ter que estudar. A profissão de musico tem muitas vertentes, gravação, tocar ao vivo, em peças de teatro, orquestra, arranjador, produtor, professor, acompanhar artistas, fazer parte de bandas etc. Hoje com todo esse espaço parece que todos são grandes artistas, mas a clonagem é inevitável. Um cara acha que aquilo é o certo, o outro copia e quando você vê esta tudo igual. Todo mundo quer tocar rápido em uma semana, todo mundo quer saber jazz em cinco horas, ter o métodos das técnicas impossíveis, com segredo, sem segredo, descubra o que você está fazendo de errado, todo mundo é artista, todo mundo tem dvd, cd, perfil, canal, blog e todos somos iguais, #sqn. Daí, quem vai se destacar? O diferente. E a galera igual vai ter que ralar para ser diferente depois de passar tanto tempo sem desenvolver sua criatividade, enquanto os criativos estão curtindo a música em sua essência desenvolvendo seus talentos, se divertindo e influenciando os mais antenados. Para ser inovador não é preciso ser um virtuoso, tocar rápido, ter segredos, saber tudo. Volte no tempo e veja como os caras fizeram sem nada disso que tem hoje. 
Inovadores sem internet. Fizeram tudo na raça e agora que tudo está disponível ninguém consegue fazer, por quê?! 
A resposta esta no silêncio, antes da primeira nota ser tocada. Ouça antes de tocar. 

Creio que "a rede" está aí para facilitar a "união", mas o que acontece é o contrário.
Se está mais fácil se unir, vamos nos unir e seremos fortes!






7-) Sobre equipamentos (guitarras, amps e pedais). O que tem usado ultimamente? Costuma varias muito de uma situação ao vivo para uma gravação em estúdio?

Tento ter sempre uns três set-ups: Jams, Botecos e Big Shows. 
Jams: "Não levo amp". Pedal de volume, compressor, tube screamer.
Botecos: Levo um Amplificador Roland (com Reverb e delay) e os pedais da Jam. 
Big Shows: Kemper Power Rack com vários pre-sets programados por mim com pitch shifters, ping-pong delays, todos os tipos de efeitos que gosto, controlados com o Profile Remote e uma caixa K&K 1x12, 2x12 ou 4x12 (+Roadie) dependendo do show. 
Muitas vezes o Big Show pode acontecer em um Boteco e a Jam em um Big Show. Então "varêia". O legal do Kemper é o som estéreo em linha com som real de amplificação, da pra plugar na mesa e ter um sonzão!
Em gravações procuro o timbre proposto pelo estilo da música. Levo minhas tralhas e uso o que tiver de melhor nos estúdios, às vezes acho o timbre na hora. Desmontei meu sistema do Bob Bradshaw e vou montar um pedalboard com o que sobrou. Wah, Whammy, compressor, Screamer, Volume (indispensável), afinador com ponteiro (TU- Boss), Octafuzz, VooDoo 1, H9 Eventide, etc..






8-) Atualmente vemos a questão dos efeitos digitais crescendo cada vez mais e hoje fazem uma boa concorrência com os analógicos, O que pensa sobre? Qual sua preferência? Qual sua visão sobre esse mercado daqui algumas décadas?

Acho incrível a velocidade da evolução dos equipamentos hoje em dia. 
Gosto de testar tudo! Acho que tudo no mundo muda rápido, antigamente era fácil viajar com um "rack", cabeçote, caixa, pedaleira, duas guitarras,  hoje é caríssimo, quase impossível. Então, ou você acha uma alternativa prática ou terá que alugar tudo no local do show. Vejo meu amigo Scott Henderson viajando hoje em dia com seus pedais na mala de roupas, alugando cabeçotes e caixas no local do show. Antigamente ele levava até um sistema separado para o som de "synth" da guitarra.
Precisamos economizar energia, água, captar energia do sol, dos ventos, das plantas. 
Na velocidade que está a tecnologia, em breve teremos equipamentos incríveis que serão obsoletos semana que vem. “Transformers”! “Homecarampedalboatdronefoodtruckofficeguitarclub”!
Tipo assim. 
  




9-)Também muito presente nos dias de hoje são as relações de endorsement entre artistas e empresas do ramo musical. Como deve ser construída essa relação e qual é o posicionamento que o artista deve ter?

O artista tem que se dedicar à arte e a marca se dedicar ao artista. 
Essa relação marcas/endorsers está acabando com a música. Não tem mais músicos, só endorsers, workshops viraram showzinhos particulares com playbacks e demonstrações de mesmices. Eu uso o que eu gosto de usar e endosso as marcas que gosto por isso, não porque vou aparecer na revista, por dinheiro ou ganhar um monte de equipamento ruim como forma de pagamento. Já recusei propostas financeiras de marcas que queriam que eu colocasse o amplificador delas no palco mesmo que não estivesse usando só para sair na foto. Aí não dá!
E vejo muita gente fazendo isso! Com certeza eu estaria melhor de vida se estivesse fazendo, mas acho estranho demais e dá muito trabalho levar um equipamento que você não vai usar só pra tirar foto. Tem caras que até compram os equipamentos que nem conhecem, pagam, pra aparecer no site da marca como "endorser" porque fulano ou ciclano está lá e ele estando lá também será considerado como tal, e são! Kkk 
E as marcas se aproveitam disso e assinam contratos com endorsers que nem são músicos, pagam workshop, produzem festivais de playbacks e esses caras vivem bem, mas não conseguem tocar um blues sem playback, não sabem acompanhar ninguém, não sabem os acordes da base e não têm "time" e o swing passa longe. Enquanto outros, sem apoio, por que não querem usar uma porcaria de um pedal fedido sem som, um amplificado "denorex" (google it) ou seja lá o que for, tocam bem, têm muito para compartilhar, mas o cara da loja pergunta: 
- Quem paga seus workshops? Quais as marcas que você endossa e que pagam tudo? Queremos um workshop seu. Quais são os brindes da marca? 
E muitas vezes a marca não tem como pagar workshops pro artista porque já disponibiliza equipamentos caríssimos, então as marcas que podem, se apoderam desse mercado. Elas têm "artistas" no país inteiro, de todos os estilos, de todos os instrumentos, e por isso "bombam na mídia", já discutida em outra resposta acima, mas seus produtos nem sempre são bons, a maioria é de qualidade amadora com chiados, roubam o som do instrumento, e é por esse motivo, principal, que eu não endosso certas marcas. Artistas como eu deixam de fazer um workshop porque ninguém quer cobrar por isso, e fica tudo invertido porque "o artista bom é aquele que endossa várias marcas e a gente não precisa cobrar o workshop dele porque as marcas pagam e dão brindes e o workshop tem que ser de graça para o público". Que público? Vai lotar! De gente desinteressada que foi porque era de graça. "O work do cara lota!" Claro, é de graça Na maioria das vezes, o workshop é o único show desse cara (endorser). Ele não toca em lugar nenhum, não tem banda, mas executa seu playback com perfeição, só isso. As marcas que mais vendem, produtos baratos, recrutam "playbackers" para isso. Agora, chame o cara pra fazer um som sem playblack pra ver como ele se sai. Claro que temos grandes artistas tocando com playbacks também e sendo pagos por grandes marcas, poucos e poucas. E também não estou desmerecendo o playback, eu adoro um Aebersold, mas nada se compara à interação. Um sola, o outro faz a base. Ponto. E não, enquanto ele sola, eu fico olhando. Nem preciso tocar acordes, só solar. Mas, e as notas que o cara está alterando nos acordes que não estão no playback? E o bate-papo musical? Esta se perdendo. . 
Independente disso, a resposta à pergunta do cara da loja é:
-Meus fãs. Gente interessada em aprender música, alguma coisa do que eu toco que eles admiram. Ouvir estórias da minha vida de músico. Tocar junto. Às vezes ligado na mesa mesmo, sem pedais, só pela música. Na pegada! Isso está se perdendo nos tempos da super mídia dos interesses. Por isso que na hora de tocar, o cara me vem com o lick do Slash pra levantar a galera. (Preciso aprender) Kkkkkk Vai lá... Toca muito hein?! Têm pedais de distorção de cinco marcas diferentes na pedaleira e só usa um, mas ganha um pedal com sua assinatura se postar mil fotos no insta. 
Eu tenho que estudar muito pra tocar um dia como eu sonho, não dá pra ser fotógrafo, marqueteiro e tudo ao mesmo tempo, minha música é minha vida, a vida é curta, preciso me doar para ser real e não ficar pensando nessas bobagens na hora do som. Quando da pra tirar uma foto eu tiro, mas para isso existem os fotógrafos profissionais. 
Prefiro seguir esse caminho e ser respeitado por isso. 
Entendo que temos uma grande responsabilidade de dizer o que é bom e o que não é. Quando eu digo que um equipamento é bom, a galera vai conferir porque sabe que eu não uso qualquer coisa só pra sair na revista. Podem até não gostar, mas tem um peso. Pelo mesmo motivo que você leu tudo isso até aqui. 
Isso é Prestígio, não choquito. Leva tempo. "Dá trabái".



10-) Agradecemos muito sua presença aqui no Guitar Tech e para terminar gostaríamos que deixasse uma mensagem para seus fãs e leitores do blog! Muito obrigado!

Obrigado Guitar Tech, pelo convite e pelo espaço de vocês para uma discussão sobre nosso assunto favorito. Que fique bem claro que essas são minhas opiniões no momento e que elas podem mudar também a qualquer momento com mais um giro do mundo ou uma volta da vida. 
Seja sincero com sua música e ela sempre estará ao seu lado. Você ficaria chocado se soubesse quantos amigos adorariam ouvir aquela sua música doida que você têm vergonha de tocar. Para os que não gostaram, obrigado. 
Porque é a "sua" cara, de mais ninguém. 
Desejo à vocês muita saúde e sucesso! 

"FU510N ENQUANTO PODEM"














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