Segue mais uma entrevista com um dos grandes talentos da guitarra nacional, desta vez teremos Paulo Schroeber trazendo um pouco de sua carreira para nós.
A entrevista ficou muito interessante, nela Paulo descreve sobre fatos de sua carreira, seu início na guitarra, e alguns projetos atuais, também da certos detalhes de sua grave doença cardíaca que o retirou de uma das principais bandas de heavy metal da atualidade.
Particularmente conheci o trabalho do Paulo no próprio Almah, e quando ouvi ficou aquela sensação... Caramba!!! que solos são esses?? quem é esse cara??
Paulo é conhecido por solos perto do impossível de se tocar, por técnicas muito elaboradas e musicalidade impressionante, para o Guitar Tech é uma grande honra contar com suas palavras.
Agradeço muito ao Paulo pela entrevista e atenção, é sempre muito importante ter caras desse nível aqui no blog, torcemos muito por você que você se recupere e consiga voltar rapidamente a desempenhar os grandes trabalhos que o consagrou!!!! Valeuu!!!
Foto por: Alex Milesi
1-) Conte um pouco
sobre seu início na guitarra, quais eram as dificuldades, e diferenças para os
dias atuais?
Me interessei pela guitarra depois de ter escutado, quando
tinha 15 anos alguns lps que o namorado da minha irmã costumava trazer na
época, para ouvir lá em casa com ela e por acaso no meio daqueles discos
coloquei o Restless and Wild do Accept.
Ouvi aquela sonoridade e realmente foi um choque para mim,
pois não costumava ouvir nada em termos de música na época, pois não tem nenhum
músico em minha família, ou meu pai ouvia música alemã ou Tchaikovsky.
Alguns dias depois já tendo ouvido umas cem vezes o mesmo
disco conheci outras bandas e disse para ele trazer mais coisas, aí fiquei
conhecendo AC/DC, Black Sabbath, Iron Maiden, Scorpions e por aí vai. Como moro
no interior do RS não havia muitos recursos na época, e fiz de tudo, pois como
era bem novo até de uma porta de madeira tentei construir uma guitarra...
Depois de muita insistência consegui que meu pai me
comprasse um violão, e muito tempo depois uma guitarra Golden usada, na época
até uma boa marca, que usei por alguns anos, e muito, mas muito tempo depois
ainda consegui convencer ele a me comprar um pedal de distorção.
No início só fazia barulho mesmo, e meu pai por irritação
daquela zoeira toda me fez ir atrás de um professor na marra, e realmente foi a
melhor coisa que eu fiz, pois não havia informação alguma, era tirar de ouvido
o que se ouvia nos discos, ou fazer algumas aulas ou nada.
Lembro que a gente ia em alguns ensaios de algumas bandas de
rock, e mesmo gostando de um som mais pesado sempre ficava olhando muito o que
o guitarrista fazia e tentava copiar em casa.
Hoje em dia há uma acessibilidade muito rápida e fácil por
causa da internet, em termos de material, mas em minha modesta opinião, mesmo
assim, como dei muitas aulas, praticamente toda minha vida, acho que muita
gente toca muito parecido com toda essa nova geração devido a esse fator, e
também mesmo com tanta informação por aí, mesmo assim, 99,9% das pessoas que me
procuram ainda tem o conceito, por exemplo de uma coisa simples como os modos
gregos de pensar de uma maneira errônea.
Então há os seus prós e contras em minha opinião.
2-) Atualmente, sobre
equipamentos, o que tem usado? Costuma variar muito de uma situação ao vivo,
para uma gravação?
Com o Almah , tocava com qualquer coisa que a casa oferecia,
e uma pedaleira da Line 6 HD 500. Em shows perto daqui de onde eu moro que
tenho condições de levar meu equipamento uso um Power Amp Simulclass 90/90, um
Pré Triaxis ambos da MesaBoogie, um Lexicon Mpx-1 para efeitos ligados em um
Power Conditioner da Furman para estabilizar a voltagem, ligados novamente em
uma caixa Marshall Lead 1960/A.
Gosto do Triaxis, pois é um aparelho muito versátil, apesar
de ter alguns problemas de manutenção, e o esquema do volume dos parâmetros é
um pouco mal projetado. Mas sempre acabo voltando para ele pois tenho outros
prés aqui também, um Sansamp Psa-1 e um Recto pré da Mesa, que nunca deram
problema.
Nas gravações, atualmente uso um Axe FX Ultra, da Fractal
Audio, e antigamente o Recto Pré, com um simulador de caixas de alguns plugins,
mas uso só o Axe atualmente, pois é um ótimo aparelho.
3-) Algum projeto, ou
parceria que gostaria de mencionar?
Minha prioridade é gravar algumas músicas de meu cd
instrumental seja em clipe ou vídeo, e estou bastante focado nisso. Junto ao trabalho
instrumental tenho trabalhado com meu parceiro Niuton Paganella, em um projeto
puramente metal, que sempre quis fazer, com influências das bandas clássicas
que todo mundo conhece que logo vou soltar alguma coisa para o pessoal
conferir.
Quero terminar a divulgação do cd da Hammer 67, talvez
gravaremos mais um clipe, pois devido a minha doença tive que parar pela
metade, que é uma praia mais alternativa, e finalmente a longo prazo regravar
as músicas de minha banda antiga de Tecnhical Death Metal, a Fear Ritual, onde
toda a parte das guitarras já está gravada.
Estava praticamente voltando ao Almah também, mas
infelizmente tive uma recaída muito grande, tomei medicamentos que me
receitaram que não eram apropriados para mim, então infelizmente minha volta a
banda não vai ser possível no momento, pois estava me dedicando praticamente todo
o meu tempo livre para lembrar de todas as músicas que eu tocava, e estava indo
extremamente bem, mas acho que depois dessa não é mais para ser mesmo, pois
estava com total certeza de minha volta devido a minha grande melhora. No
momento estou me recuperando novamente devido a forte reação alérgica que tive
aos medicamentos, e infelizmente dependo dos profissionais do plantão
hospitalar, caso passe mal, que na maioria das vezes não tem o preparo
necessário para lidar com uma doença como a minha.
Foto por: Alex Milesi
4-) Ultimamente o que
tem estudado e escutado?
Estou totalmente focado em minhas músicas instrumentais de
meu disco solo, para registrar em vídeo, quando achar que já trabalhei na
divulgação delas o suficiente, volto a rotina normal, de anteriormente, que
estava estudando Hybrid Picking, um pouco de Displacement, e Tapping com 4
dedos, que são técnicas razoavelmente novas para mim, e é claro continuar
estudando Fusion, troca de acordes e fraseado.
Costumo escutar bandas muito pesadas, como Periphery,
Meshuggah, as coisas que o Devin Townsend faz também, algumas coisas mais
calmas como Deftones, guitarristas de fusion e jazz, de rock e Metal posso
citar o Tosin Abasi, John 5, estou ouvindo muito as suítes de Cello de Bach,
ouço muito o mestre Segóvia, principalmente ele tocando Bach. E por aí
vai...pois ouço uma variedade de estilos dependendo da situação e de minha
vontade.
5-) Sobre internet e
informática, no seu ponto de vista, quais os benefícios que esses recursos
podem trazer para os estudantes e profissionais da guitarra?
O benefício é algo lógico, a velocidade de informação que o
estudante tem a sua disposição.
Porém mesmo assim noto que aqueles que começaram estudar um
instrumento apenas pela internet tem muitos problemas com postura de mãos, e em
certos assuntos, como existe muita informação acabam se perdendo no meio do
caminho, acho que para um aluno iniciante é essencial fazer aulas com um bom
professor, pois ele serve como guia e principalmente ensina a ter um foco no
meio de tanta informação.
Não posso deixar de mencionar também, que a maioria, como
existem muitas tablaturas disponíveis, não sabem tirar de ouvido uma música
simples, e geralmente as tablaturas contém muitos erros.
Mas para um nível intermediário, a avançado a internet, para
o estudante é de importância fundamental, é só saber usar da forma correta, eu
mesmo uso bastante, para procurar novas formas de tocar e ouvir coisas novas
interessantes, e passo todo o meu material de aula em um pendrive ou cd, para
depois o aluno imprimir o que é necessário.
6-) Ao longo de sua
carreira você fez parte de bandas importantes como Almah e Burning in Hell,
como foi trabalhar com essas bandas e quais os principais pontos que vieram a
agregar na sua experiência como guitarrista profissional?
Na Burning Hell tive algumas participações em algumas das
composições do primeiro disco, foi uma coisa rápida, pois o guitarrista estava
se desentendendo com a banda e entrei só para tapar o furo que ele deixou, mas
logo ele voltou e se entenderam, pois ele combinava muito e gostava muito do
estilo que eles tocavam naquele momento.
No Almah, foi um pouco mais direcionado, pois na época
estava meio sem fazer nada, apenas dando algumas aulas, e foi bacana trabalhar
e me focar em apenas uma coisa, pois tudo teve que ser feito muito rápido, e
foi legal também para conhecer de verdade como funciona o lance comercial da
coisa, venda de shows, assessoria, essas coisas. Para ser sincero fiquei um
pouco desapontado com todo o negócio, pois existem muitas bandas boas no Brasil
que não tem o reconhecimento que merecem, mas acredito que logo essa situação
aos poucos vai mudar, que é o exemplo do Hibria, que vem crescendo muito nesses
últimos tempos.
E foi legal tocar em grandes festivais, ter uma estrutura razoável para tocar Metal,
e ter meu trabalho um pouco mais reconhecido. Porém nem tudo são flores, há
lugares com pouca estrutura também e se o evento não for bem divulgado pelos
responsáveis as pessoas não comparecem, mas isso também não cabe a mim julgar e
sim ao público gostar ou não da banda e ir aos shows.
7-) Seu trabalho
instrumental intitulado Freak Songs, recentemente recebeu boas críticas de
revistas e veículos de comunicação relacionado a guitarra, o cd é muito
completo e diversificado trazendo elementos de rock/ metal, jazz, fusion e
música clássica, você como autor das peças, ao que você atribui essa riqueza em
elementos e sonoridade tão distintas?
Sempre me preocupei em ser um guitarrista diversificado, e
procuro sempre, apesar de meu foco ser no rock e metal estudar e ouvir outros
estilos de música, pois já toquei muita coisa diferente no decorrer desse
tempo. Principalmente depois que tive algumas aulas de Jazz, deixando claro que
nunca vou ser um guitarrista de Jazz, pois isso exige em minha modesta opinião
uma formação já precoce no estilo, minha maneira de pensar mudou completamente,
com relação a colocar as notas em diferentes acordes e muitos outros aspectos.
E convidei propositalmente o Rodrigo Zorzi, que é um músico fenomenal, para
gravar as baterias, justamente pela sua fluência e facilidade em tocar música
brasileira e jazz para ter umas linhas de baterias de uma pessoa que convive
sempre com esses estilos, isso fez toda a diferença.
Com relação a música clássica, sempre convivi com o estilo,
pois comecei tocando violão clássico, e acho que daí veio uma fluência natural
quando estava compondo algumas músicas no estilo.
Foto por: Alex Milesi
8-) Quais os planos e
projetos para o futuro?
É difícil para mim querer fazer planos para o futuro, pois
como disse anteriormente, devido aos altos e baixos de minha doença, a pessoa
aprende a viver um dia de cada vez.
O que posso dizer é que estou focado em um som específico de
meu disco instrumental para registrar em vídeo, e sempre algum dia da semana eu
e o Paganella se reunimos para compor alguma coisa. Estava focado em algumas
músicas do Almah, mas infelizmente dei uma recaída, então não vai ser possível
voltar, era isso em que eu estava trabalhando mais, pois como disse não dá para
fazer muitos planos, e citei na terceira pergunta algumas outras coisas que
ando fazendo, mas que estão em segundo plano no momento.
9-) Agradecemos a
entrevista, e para terminar, pedimos que deixe uma mensagem para seus fãs e
leitores do blog... Fica aqui o nosso muito obrigado!
Primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de expôr
algumas de minhas idéias, mesmo que elas venham a mudar daqui a um tempo,
espero ter sido útil as pessoas que se interessaram em ler a entrevista e terem
tirado proveito de alguma de alguma situação a qual passei para repensar alguns
valores e atitudes, e sempre agradecer o carinho com que sou tratado pelo
pessoal que curte meu trabalho.
Muito obrigado, muito boa sorte e um grande abraço a todos
vocês.
Paulo Schroeber