Seguimos com mais uma entrevista, desta vez com Rafael Nery, uma grande revelação da guitarra nacional nos últimos anos...
Nessa entrevista Rafael revela detalhes de sua vivência como músico/guitarrista, fala do seu novo CD, que está próximo de ser lançado, fala sobre seu trabalho com aulas e cursos, patrocínios, projetos futuros, e muito mais...
Aproveito para agradecer a atenção do Rafael em nos atender e topar fazer esse bate papo conosco!!!
Confiram!!!
1-) Conte um pouco
como foi seu início na guitarra, e quais os principais desafios que enfrentou
nos primeiros passos?
Bom, eu
comecei a tocar guitarra quando eu tinha 13 anos ao ser influenciado pelas
bandas de metal tradicional/melódico que estavam em muita evidência no início
dos anos 2000. O Angra e o Shaman tinham lançado discos muitos fortes que eram
o “Rebirth” e “Ritual” e aquilo ali me atingiu em cheio. Acho que foi muito bom, pois aquilo me estimulou
muito a estudar o instrumento e aperfeiçoar minha técnica, vamos dizer que foi
um começo bem “saudável” do ponto de vista didático. Depois fui conhecer
através de amigos e pela Internet outros guitarristas virtuosos e aquilo só
serviu de combustível para que eu me focasse cada vez mais nos estudos.
Acho que
meu maior desafio foi o fato de eu não ter ninguém em minha família que seja
músico/musicista e naquele momento eu estava completamente sozinho neste
sentido, e ao mesmo tempo, não sabia direito o tamanho da briga que estava
comprando, porém, no final tudo caminhou bem.
2-) Sendo um
guitarrista da nova geração, você alcançou um destaque de maneira muito rápida,
ao que você atribui esse repentino sucesso e quais são os melhores caminhos
para se destacar nas condições atuais da profissão de músico no Brasil?
Você tem de
trabalhar muito duro, estou nesta há 13 anos e sempre soube que deveria dar o
melhor de mim, sempre faço o meu melhor, mesmo que eventualmente venha cometer
algum erro durante o processo. Quem está mais próximo sabe que eu já derramei
muito sangue pelos meus trabalhos, coisas até que não voltaria a fazer, mas que
foram cruciais para este resultado. Tenha paciência e se disponha a trabalhar
neste ritmo que as coisas vão acontecendo ao poucos, não adianta se apressar,
pois isto só irá te frustrar durante o processo.
Outro
ponto importantíssimo é a organização e administração de sua própria carreira.
Isto envolve muitos aspectos e até mesmo um talento natural para ser um
empreendedor desde o principio, não acho que o mesmo caminho funcionará para
todos, mas você deve encontrar formas de ser criativo, entender seus pontos
fortes e fracos , com humildade, e
extrair o melhor de cada situação.
3-) Atualmente você
está trabalhando na produção do seu segundo cd solo, que conta inclusive com
produtores renomados do cenário musical brasileiro, fale um pouco sobre essa
produção e o que podemos esperar para esse lançamento?
Este segundo trabalho representa muita
coisa para mim, pois ele foi escrito quase que inteiramente em um momento
difícil em que eu estava extremamente sufocado de trabalho e tudo aquilo
começou a não fazer mais sentido, pois praticamente não estava mais conseguindo
fazer o que me colocou neste ”mundo” musical
desde o principio que é a possibilidade de compor músicas e escrever meu
próprio material. Da mesma forma que isto pode ser terapêutico, para mim, é quase que uma necessidade. Eu
segurei aquela carga de trabalho por muito tempo, até que chegou um momento em que
percebi claramente que não deveria estar ali somente porque as outras pessoas
consideravam que aquilo era uma boa oportunidade ou porque seria bom para a
minha carreira, se eu tivesse que continuar sacrificando todo meu tempo livre
aquilo tinha que mudar. A partir do momento que decidi isto, mergulhei neste novo trabalho e nunca olhei
para trás, pois o importante era fazer um grande disco.
Musicalmente
falando o disco trará muita coisa que não estava presente no primeiro registro Say a Word de 2010. Agora
temos a vibe de uma banda tocando e
explorando muito mais o meu lado guitarrístico, riffs e solos que flertam com
as influências mais recentes do meu trabalho. Tenho certeza que muita gente vai
acabar se surpreendendo, pois não trata-se de um disco de Heavy Metal e sim de
um Hard Rock/Rock com diversas outras influências. Falando na banda, o time é
nota 10! Bruno Valverde (Kiko Loureiro)
na bateria e Felipe Andreoli (Angra) no baixo, eu não poderia pedir por uma
cozinha melhor, não é mesmo? Além disto, o Felipe
Andreoli está produzindo o disco todo desde o início e , com certeza, sua
ajuda tem sido primordial com diversas ideias, dicas e supervisão no estúdio. Ele
mesmo me incentivou a explorar mais meu lado guitarrístico, já que muita coisa
ficou pronta inicialmente com violão e voz, a propósito, quero também mostrar
minha evolução como cantor ao longo destes anos, pois este é um aspecto
importantíssimo já que o disco é focado em canções e não teremos nenhuma
musical instrumental, embora vários momentos interessantes de guitarra. Teremos
também os teclados do talentoso Felipe Freire.
Ao ouvir o que
já está pronto, tenho certeza que temos algo especial em mãos. A qualidade dos timbres está sensacional,
pois estamos gravando no Norcal Studios
que eu acredito ser um dos melhores estúdios do gênero no país.
Foto por: Miela Finger
4-) Em termos de
equipamentos, guitarras, pedais e amps, como você configura seu set? Costuma
variar muito de uma situação de palco para uma de estúdio?
Neste
aspecto, Eu gosto de ser o mais objetivo possível, não sou muito de ficar
pesquisando milhares de timbres, muito embora,
admire quem tenha este talento.
Em vários workshops , acabo fazendo com somente um pedal que é o F!RE
Ultimate Distortion. Uso guitarras Tagima há muito tempo, desde os meus
primeiros anos como músico e muito antes de pensar em ser Endorsee deles. Geralmente é uma situação bem crua na Expomusic,
chego no lugar com alguma guitarra de Tagima,
o pedal e dois cabos da Sparflex e ,
na maioria das vezes, até sem Delay rs...
muita gente até não acredita nisto e se surpreende, mas eu gosto da ideia de
tentar extrair o som que eu preciso tocando e aí sim um equipamento bom vai
valorizar e dar a cor necessária para aquela situação.
No
meu disco, praticamente nem usamos pedal, foi tudo direto nos amplificadores
valvulados do Norcal Studios e em meu
Home studio, costumo gravar em linha
com as simulações do Logic Pro. É
claro que não posso deixar de mencionar as empresas que me patrocinam e me
fornecem os equipamentos necessários para meu trabalho: Tagima, Lost Dog, Avs Bags, Magna Luthieria, Solez, Sparflex e recentemente
retornei para a F!RE!
5-) Ultimamente o que
anda ouvindo e estudando?
Pode parecer clichê,
mas eu estou sempre aberto a todo tipo de música. Ando ouvindo muito um cara
chamado Raul Midon que é um
compositor, cantor e instrumentista fantástico e ao mesmo tempo, posso ir ouvir um disco do Bruce Dickinson ou Chris
Cornell – que são alguns dos meus ídolos – e no final do dia, acabar ouvindo um
disco da Kelly Clarkson ou da Adele. Adoro este tipo de coisa, pois
atualmente o meu foco é ouvir boas canções, acho que mesmo para quem trabalha
com música instrumental, isto traz um senso melódico muito bom. A banda que me
abriu os olhos ou ouvidos..rs para este tipo de coisa foi o Mr. Big – que é
minha banda favorita, a propósito - , os caras são extremamente competentes
como instrumentistas e tem canções muito boas. E de uma forma curiosa, tudo
isto vai acabar refletindo no meu playing
como guitarrista, pois percebo que ao longo dos anos, a técnica permaneceu, mas
as frases e até mesmo natureza das ideias tem surgido em um caminho mais Swingado e é basicamente isto que tenho tentado
incentivar.
6-) Algum projeto ou
parceria que gostaria de ressaltar?
Na verdade, não.
Embora, a gente nunca sabe o que possa acontecer, já que a vida pode acabar nos
surpreendendo. Eu estou completamente focado em finalizar este disco, pois isto
foi uma decisão crucial há dois anos atrás e estamos trabalhando muito duro para
que seja o melhor álbum possível. Temos que conciliar muita coisa para que a
coisa saia como esperado e , no momento, estou com a grade alunos praticamente cheia, o
que me deixa com pouco tempo disponível para realizar outras tarefas. No ano
passado, estava montando um projeto de Rock/Fusion,
mas também ainda não conseguimos organizar, quem sabe este ano façamos alguma
coisa.
7-) Quais suas
principais influencias no início de sua carreira? E sobre as influencias
atuais?
Como disse
anteriormente, eu vim de um background totalmente Heavy Metal e isto vai estar
sempre incorporado em mim. Praticamente, ouvi todas as bandas que estavam no
auge do metal melódico da minha adolescência e coisas como Iron Maiden, Queensryche
e etc. Passei pela fase Hard Rock e conheci bandas como o Mr. Big que mudaram muito a maneira como
eu encarava a coisa toda, antes eu era muito fechado, muito conservador. E com
uma banda mais livre para improvisações como eles, abri um pouco minha mente e
entendi que cada performance era diferente. Atualmente, poderia citar: Raul Midon, Richie Kotzen, Greg Howe, Paul
Gilbert , Soundgarden, Bruce Dickinson, Audioslave, Adrenaline Mob, The Winery
Dogs e etc.
Foto por: Miela Finger
8-) Quais os fatores
que considera indispensáveis para ser um bom profissional da guitarra?
Além de ser um
bom guitarrista, ele tem que , assim como nas outras profissões, ser pontual,
saber se comunicar claramente, ser dedicado, estar sempre ligado no que está
acontecendo, se renovar e principalmente: levar sua carreira muito a sério. Tocar
muita guitarra é um dos passos, mas não garante um profissional bem-sucedido.
9-) Você também
trabalha muito com aulas e cursos de guitarra, sendo esses presenciais ou
online. No que contribui para o profissional da música o ato de lecionar? E
aproveitando o assunto da internet, o que você acha da relação, música,
profissão e internet, qual a opinião que você pode obter entre esses meios para
um futuro próximo?
Sim, as aulas de guitarra são de onde
consigo a minha sobrevivência e graças a Deus, tudo está indo bem. Como disse
anteriormente, estou com os horários praticamente cheios, a ponto de começar
uma lista de espera, e o curioso é que atualmente a maioria dos alunos são online.
Com certeza, durante estas aulas, aprendo muito com os alunos e relações
humanas e isto me estimula a refletir sobre como posso explicar um lick que faço ou alguma teoria de
quantas formas diferentes forem necessárias para o aluno entender e isto acaba
me trazendo automaticamente uma assimilação mais completa do assunto. Até
baseado no que comentei no início da resposta desta pergunta, eu devo muito da
minha carreira a Internet e muitos outros guitarristas extraíram um grande
reconhecimento deste meio de comunicação, ela pode ser sim nociva para sua
imagem e para quem busca um conhecimento se mal usada e mal filtrada, mas
acredito que de uma forma geral, já chegamos no point of no return e quem não se adequar vai ficar para trás.
10-) É cada vez mais
comum e natural, o músico além de tocar, saber gravar e editar seus próprios
trabalhos, para você qual a vantagem que podemos ter quando também conseguimos
dominar essa parte de produção musical?
Envolve muito o que falei na resposta
sobre administrar a carreira, quanto mais talentos você tiver, menos terceiros
você acaba envolvendo no processo todo e o resultado sai de maneira mais rápida
e fácil. Outro aspecto importante do aprendizado é que quando estamos gravando,
sempre estamos avaliando coisas como timing,
interpretação, pegada e gradativamente você vai corrigindo as possíveis falhas e
se tornando um músico melhor.
11-) Para terminar,
gostaríamos de agradecer sua atenção e pedir que deixe uma mensagem para os
seus fãs e leitores do blog! Um abraço!!
Eu que
agradeço pelo espaço e fiquem ligados para as novidades de 2014. O meu novo
disco estará disponível ainda este ano pela Black Records (www.blackrecods.com.br) e muita coisa boa deve rolar! Continuem sempre
incentivando canais como este, pois a guitarra nacional precisa cada vez mais
de veículos especializados que valorizem músicos nacionais! Valeu!