Seguimos com mais uma entrevista, desta vez quem marca presença é Roberto Torao, um guitarrista conhecido devido a reviews de produtos e dicas de home studio, na entrevista Torao fala sobre seu início na guitarra, como projetou seu trabalho, fala um pouco sobre equipamento e uma questão que divide opiniões, internet e o meio profissional musical, a entrevista ficou muito boa e nela ele esclarece e dá dicas muito boas para estudantes e profissionais.
1-) Conte um pouco
sobre seu início na
guitarra, quais eram as dificuldades? e quais foram suas primeiras influencias?
A
grande influência pra atormentar meus pais pra comprar uma guitarra foi o Iron Maiden
que conheci através de um amigo que me emprestou uma fita K7 nos anos
80, eu tinha uns 12-14 anos, e a grande dificuldade era a falta de informação e material pra estudo, não tinha internet, youtube, fóruns, celular, email e etc…
era a época do telefone com discador
giratório, poucas revistas especializadas e cartas escritas a mão.
2-) Atualmente o que
anda estudando e ouvindo?
Eu sou
bem eclético ouço da bossa nova ao heavy metal, música boa sempre será
boa independente
do estilo. Hoje tenho ouvido mais jazz/blues/country, tenho curtido o Robben
Ford, Mike Stern, Sheryl Bayley, Tedeschi Trucks Band, Carl Verheyen, Eric
Johnson, John Scofield, George Benson, SRV, Jeff Beck, Bonamassa, Keith Urban,
Brad Paisley e muitos outros.
3-) Muito conhecido
por trabalhos via internet, principalmente com reviews de equipamentos, como
começou esse seu
trabalho?
Ao
contrário do que muita gente pensa que eu surgi do nada no youtube, para mim é
a uma continuação do meu trabalho como músico profissional, já
dei aulas de
guitarras, toquei em bandas, fiz shows em bares, clubes, festivais e turnê
na região. Mas chega um dia que você
cansa em dar
murro em ponta de faca, tocando por cachê pequeno na maioria das vezes
ou tocando de graça pela “divulgação”. Mas como a maioria já
deve saber, sou médico, morei fora do país um tempo, do outro lado do
hemisfério, tive a experiência de uma internet veloz de banda larga, o youtube
passou ser minha TV, assistia muito o Marcos De Ros, Gusvato Guerra, Ozielzinho
e outros tubers gringos, quando retornei ao Brasil, trouxe uma camera que filma
em 1080p, e um novo HomeStudio bem menor que possuia antes de viajar mas muito
mais eficiente, comecei com um VLog sobre homestudio e matérias com perfomances com
artistas locais como Fred Andrade, Alexandre Bicudo, Luciano Magno e outros,
depois expandi os assuntos com aulas de guitarra e reviews de equipamento, e
estamos firme e forte até hoje.
Você possui alguma parceria que viabiliza os vídeos?
Financeiramente
quem mantém o canal sou eu, sou o produtor executivo, mas em 2014 estou querendo
que o canal fique independente, pra manter a qualidade custa caro, e acredito
que as empresas devem pagar pelas produções futuras de vídeo que é
um trabalho
enorme que dura horas e um expertise que poucos possuem, isso é
bem comum fora do
país, aqui no Brasil ainda estamos devagar, mas espero em breve mudar isso.
O que pensa da internet como uma realidade de
trabalho cada vez mais forte no meio musical?
A
internet aumentou a velocidade de informação, aproximou demais as pessoas
no planeta, e nivelou no mesmo plano as pessoas, todo mundo gosta de falar, dar
uma opinião, e fazer crítica pessoal, as vezes chega ser ridículo, um guri de 15 anos
batendo boca com um guitarrista de 30-40 anos de carreira, e atitudes covardes
de pessoas anônimas em redes sociais atacando músicos, e o pior gente de
verdade apoiando isso.
Acredito
que ainda tudo é muito novo, estamos num processo de aprendizados em como lidar com essa “nova" tecnologia, sabemos
de suas importância mas ainda não sabemos usar bem e a nosso favor.
Ainda
existe muito preconceito de algumas pessoas, frases como “youtuber não é
músico”
, “Você
não tem agenda”, “Não considero você
como um músico" e “músico de quarto”, no fundo é
pura inveja,
desconhecimento e uma forma de descarregar a frustração de suas derrotas, eu penso
diferente, os “músicos de quartos” serão os músicos de amanhã.
Se a
gente for analizar, muitos guitarristas dessa nova geração se destacaram graças ao Youtube como Guthrie
Govan, Keith Merrow, Ola Englund, Marco Sfogli, Andy James, Rob Chappers, Phil
X, Greg Koch e muitos outros, alguns deles conseguiram parcerias e empregos em
marcas/bandas consagradas pelo seu desempenho na produção de vídeos, e até
ajudam no
desenvolvimento de novos produtos. No Brasil posso citar o Ozielzinho, Marcos
De Ros e Gustavo Guerra
Provavelmente
o lugar que vocês conheceram alguns nomes consagrados foi graças ao Youtube também, uma pessoa nova que ouviu
um amigo recomendar o Steve Vai, mas nunca ouviu ou assistiu ele ao vivo,
acredito que o primeiro lugar que ele vai buscar isso é
digitando
"Steve Vai" no Youtube. Muitos nomes consagrados tem um canal, alguns
são bem ativos, mas não desprezam sua importancia pra agregar valor em sua
carreira.
Aos
poucos está invertendo no Brasil, ao invês de músicos locais desconhecidos no
país, está acontencendo um fenomeno interessante, alguns artistas e bandas
consagradas em vários estilos estão adotando o Youtube de forma
mais forte, caiu a ficha que é o melhor caminho atualmente pra divulgar seus video
clipes, vlogs, shows, workshops, manter a atividade e contato com os fans, o
investimento está mais forte em redes sociais como o Facebook e Youtube,
os sites oficiais ficaram de importancia secundária, resumindo em vendas de
merchandise e mural pra datas de shows, mas de fato o site do artista é
seu seguro de
amanhã, redes sociais são modas passageiras, amanhã
o facebook cai,
assim como o orkut, e aparece outra coisa, é bom ter um segundo plano pois
essas tecnologias são passageiras.
Por
outro lado, existe uma nova geração ainda em formação que por uma questão de imaturidade que ao invês de ter como objetivo de
vida, a música, tem como uma meta arrumar parcerias conhecido por endorsement, pra
estas pessoas é mais importante ter o status de “endorsee" do que tocar
bem, ao meu ver isso deve ser uma consequência de seu trabalho como músico, e alguns casos tem gente
que paga pra estar afiliado a uma marca ou se vende por tão pouco em troca de um
material que até o próprio poderia comprar tranquilamente numa loja. Obviamente não são todos, mas para os
aspirantes, entendam que é muito mais comum ouvir um “não" do que o “sim”, e é
muito mais
vitorioso quando a empresa te procura do que você sair mendingando por aí. Tem até
gente que quando
ouvem um “não”, passam a virar inimigos da marca, ficam detonando por aí
como crianças, ao meu ver, só
faz piorar a
situação, sua atitude é monitorada por outras empresas, tente ser mais
discreto, e faça a coisa certa, se você usa um produto, é porque você
acha que é
o melhor no momento,
gosta, e tem prazer em usar, seja bem sincero em seu trabalho, nunca use algo
que ache ruim e seja obrigado a falar ao contrário, o público gosta da verdade.
No
momento, o Youtube é o melhor meio de divulgação para os guitarristas, músicos e bandas, pois é
de graça, é
o site mais
acessado do mundo, e é aonde está seu maior público vai conhecer e
acompanhar você. Você vai alcançar os quatro cantos do Brasil, e possivelmente no
exterior. E o custo, é muito inferior que você bancar uma viagem de divulgação em todas capitais do Brasil
pra divulgar seu trabalho ou marca, um vídeo bem feito, tem um impacto
muito grande, muito mais do que você imagine, então, caprichem bem nele!
Depois
que você estabelece seu nome como uma “marca”, o grande desafio é
tentar
rentabilizar seus trabalhos, a monetização do youtube é
muito baixa, a não se que você
tenha centenas de
milhares ou milhões de views por vídeo, o que não é
a realidade da
maioria no ramo da música, a alta monetização é
mais comum em
VLOGs de comédias, bobagens, gameplay de jogos, e mulheres tem muito mais chances de
se destacarem do que homens no youtube. Este é o grande desafio agora pra
mim, tenho algumas idéias em 2014, vai ser difícil, mas tenho fé
que chegarei lá, eu sei que temos que olhar
pra frente, inovar, assumir riscos, vou levar muita pedrada das pessoas, e no
final vai dar certo!
4-) Em termos de
equipamento, para um show ou
gravação, o que
costuma usar? Você varia muito entre ambas situações?
Pra
Shows/Workshops levo sempre meu amp e guitarra, pedais variam de acordo com o
evento, mas procuro levar pouca coisa, a não ser que seja um workshop de
pedais, aí tenho que levar uma tropa toda.
Pra
gravação, uso apenas o que é realmente necessário, o que não está
em uso, retiro da
cadeia dos pedais, escolho a guitarra e amp certo pra música, afinal a gente precisa
servir a canção, e não espremer tudo que você tem pra dizer que usou isso ou aquilo, de fato o som é
melhor quando você
usa pouca coisa,
ultimamente é apenas guitarra, cabo, amp e um reverb ou delay. Acredito muito que
existe uma combinação certa de guitarra e amp, algumas guitarras cantam
melhor em certos amps, guitarras como strato/tele tem um som limpo melhor,
guitarras mais modernas tem um som melhor pra algo mais pesado/rock/metal. Eu
entendo que não é a realidade de muitos agora, mas num futuro será, farei 40 anos esse ano, tudo
que tenho não veio do dia pra noite, é fruto de muito trabalho suado
ao longos todos esses anos.
5-) Alguma parceria
ou novo projeto que gostaria de mencionar?
Abri
uma página no Patreon, um site de crowdfunding estilo kickstarter mas ideal
pra youtubers como eu, aonde os fans fazem uma doação simbólica pra ajudar manter o canal
e terão acesso a um conteúdo exclusivo. Acredito que são pequenos gestos de bondade é
que iremos mudar
o mundo. Pra quem tiver interesse:
6-) Quais os fatores
que você considera ser indispensável para se tornar um bom guitarrista?
Originalidade
- Procure achar seu som, muita gente copiando guitarristas famosos, óbvio que é
normal ter influências mas vai chegar um
momento que você precisa achar sua assinatura sonora, é talvez a coisa mais difícil que um guitarrista possa
alcançar, mas não é impossível.
Estude
com um bom professor - Eu sempre digo que somos eternos estudantes, é
um estudo para
vida toda, hoje com a internet, existe uma infinita quantidade de informação, muito maior que tinhamos
nos anos 80-90, hoje é muito fácil “piratear" livros e vídeo aulas, e até
temos
desconhecidos “ensinando" alguns de forma duvidosa no youtube, ao meu ver um bom
professor é insubstituivel, vai tirar os vícios, colocar o estudo no
caminho certo, motivar a continuar tocando e ensinar de forma cronológica os assuntos, sem pular
etapas. Sempre recomendo o material do Mateus Starling.
Música não é
uma competição - Muitos guitarristas,
principalmente os mais novos, nasceram nessa era de competição de quem tem mais parcerias,
quem toca mais rápido, quem consegue tocar igual a um guitarrista
famoso, e vivem uma guerra diária pra quem consegue vencer uma competição fantasma, entenda que não existe prêmio real ao alcançar algumas façanhas, vai ganhar um tapinha
nas costas dos amigos, uns curtir, e nada mais, é fútil e passageiro, amanhã
todos esquecem,
procure objetivos reais com sua música, aqueles que realmente
somem com sua carreira.
Respeite
a estrada do colega - Se seu colega tem 1 ano ou 30 anos de experiência, seja mais respeitoso,
estamos no mesmo barco, não tá fácil pra ninguém, a gente não ganha nada difamando uns aos
outros, só temos a perder, procure conhecer mais a história do seu colega ao invês de partir pro ataque, evite
a ofensa gratuíta nas redes sociais, pois é público e todos vão ver a lavagem de roupa suja,
isso não é nada bonito.
Invista
em sua carreira - Hoje tem muita gente de olho grande e preocupado na carreira
dos outros, dando opiniões e críticas no trabalhos do colega,
talvez seja o principal motivo que sua carreira está
indo pro
fracasso, foque mais em sua música e trabalho, deixe a inveja de lado, e comece a
produzir sua própria obra.
Valorize
seu trabalho - Infelizmente está muito desvalorizado o trabalho de músico, pirataria e facilidade
de “baixar" programas e músicas sem pagar um real virou
lei neste planeta, e é um tabú, ofensa, e vira piada se você
disser que
comprou um CD/DVD, pois vão alegar que tem no “Torrent" de graça. Se você
acredita em sua música, começa hoje a auto-valorizar isso,
não se venda a troco da “cerveja" do bar, tocar por divulgação, pagar pra abrir um show,
pagar pra ser endorsee de uma marca, e outros absurdos dessa nova era digital
da música. Se alguém vai usar sua imagem ou talento pra vender algo, isso
deve ser um trabalho pago, tudo que você fizer tem que ter algum
retorno, evite trampos que a vantagem é apenas unilateral e você
fica com nada. A
grande maioria infelizmente é um péssimo negociador, aceita qualquer coisa, e ainda tem o
medo de que se não pegar o trampo, vai ter alguém que vai fazer de graça. É
uma questão complicada, se seu trabalho
tem qualidade, seja mais profissional, aprendar a valorizar e cobrar por ele.
Sair do Facebook - hahhahahaha…. a gente perde
muito tempo, brigando e discutindo com estranhos, vendo bobagens nas redes
sociais, eu ainda tenho que manter a atividade, mas tenho diminuido bastante.
7-) Como estão seus projetos futuros? alguma coisa que gostaria de adiantar?
Continuar
produzindo vídeos, mas vou procurar fazer mais em qualidade do que em quantidade, fiz
cerca de 180 vídeos ano passado, sozinho, foi muita coisa e bem cansativo.
8-) Para finalizar
gostaríamos que
deixasse uma mensagem para os leitores do blog, e para seus fãs.
Obrigado
a todos pela oportunidade! E agradeço você
que conseguiu ler
até o final, peço perdão se algo não te agradou, mas falei de
coração a verdade, é como botar o dedo na ferida, alguém precisa fazer o trabalho
sujo, falar o que preciso ser dito, pra você abrir os olhos pra a
realidade. Lamento se foi de minha pessoa! Kkkkkk…..
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